A relação entre irmãos pode ser muito desafiadora, conflituosa, mas também muito especial e profunda.
Esse vínculo pode ser uma força na família desde a infância até a velhice. Mas nesse caminhar encontramos desafios desde o nascimento. Ilustro com uma história:
Uma criança de quatro anos, uma irmãzinha de quase 1 ano e meio.
A mais velha disse à sua mãe: "Mamãe! Eu não tô mais sentindo muita vontade de bater na minha irmã!"
A mãe respondeu: "É filha?? Que bom!! Agora está mais fácil pra ela entender como brinca com você e pra você entender como brinca com ela né?"
Essa mãe ficou muito feliz em perceber que ela se sente a vontade pra expressar sentimentos e vontades, mesmo as que são "feias", inadequadas.
Alguns meses antes disso, depois de levar algumas broncas e ver sua mãe muito brava quando ela batia ou tentava bater em sua irmãzinha, ela começou a fazer isso escondido.
A mãe percebeu e um dia, vendo sua filha brava, perguntou: "Filha, às vezes a gente sente coisas que dá vontade de bater em alguém não é? Você também sente?"
Ela arregalou os olhos como se fosse levar bronca.
A mãe continuou: "Não tem problema sentir, pode me falar, eu tento te ajudar. Às vezes você sente muita vontade de bater na sua irmã?"
Ela respondeu que sim e as duas conversaram sobre isso.
Que é normal sentir, mas não temos o direito de machucar as pessoas, e não precisamos machucar a nós mesmos quando sentimos algo assim.
A mãe concluiu: "Eu entendo que deve ser muito difícil pra você querer brincar com a sua irmãzinha e ela não brincar como você gostaria. Mas ela está crescendo e aos poucos vai aprender."
Imagina a frustração? A mamãe carregando a irmãzinha na barriga nove meses, muita gente falando que vai chegar uma irmazinha pra brincar e quando ela chega, não brinca?
Agora, a irmãzinha já começando está aprender a brincar junto, fala algumas palavras e correponde com mais clareza. A vontade de bater está passando. E o sentimento pôde ser sentido e expressado, mas a agressão nunca foi aceita. Nessa relação surgirão muitos novos desafios...
Como pais, precisamos aprender a nos colocar no lugar do outro para compreender e ser facilitador.
Quando queremos que nossos filhos entendam nossa forma de pensar, precisamos nos aproximar da forma deles de pensar também.
Não é fácil, mas é muito possível e gratificante.
E você, como aprendeu a se relacionar com seus irmãos? Encontra semelhança na forma que se relaciona hoje com outras pessoas? No trabalho, na família, na sua comunidade? Vale a pena refletir sobre isso.
Marcela Barros de Oliveira Ferreira
Psicóloga
CRP 08/16438