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Sobre corpo psíquico e suas dores

 

Às vezes comemos algo e depois de um tempo sentimos um  incômodo no estômago, sabemos  que o incômodo pode estar  associado ao alimento e buscamos  ajuda para entender e resolver o  incômodo. 

 

Já as dores emocionais vem das experiências emocionais  que vivemos. E o que seria uma  experiência emocional?  Basicamente tudo o que fazemos  tem um sentimento associado, além  de seres racionais, somos seres  emocionais, e as emoções  permeiam nossas vivências desde  que somos um projeto no desejo dos  nossos pais. 

 

A comida, por exemplo, seria puramente racional se nos  alimentássemos para a nutrição do  corpo, mas, também nos  alimentamos pela sensação de  prazer, e associamos os alimentos,  os cheiros, os sabores com os  momentos de alegria, tristeza, raiva,  angústia... e o alimento deixa de ser  uma necessidade puramente  fisiológica. 

 

O que eu quero dizer é que enquanto humanos, não temos  apenas necessidades fisiológicas,  temos também necessidades psico emocionais, e a pergunta é: quais  são os alimentos para o meu corpo  psíquico? Do que o corpo psíquico é  constituído? Como os nutrientes  chegam até a minha psique? 

 

Fundamentalmente o corpo psíquico é constituído por  experiências relacionais, ou seja, ao  se relacionarem, os humanos  alimentam emocionalmente uns aos  outros e assim vão se nutrindo. 

 

Sendo assim, ao nascer o humano necessita de alimento para  o corpo físico e alimento para o  corpo psíquico. Para o corpo físico  leite, para o corpo psíquico afeto.  Pois, sabemos que não basta só  leite, tem que ter olho no olho,  contato, abraço, beijos, diálogo, ou  seja, comunicação, e disso tudo vão  nascendo os sentimentos como  amor, ódio, alegria, tristeza, raiva, calma... 

 

Por exemplo, um dos primeiros nutrientes que recebemos  é a proteção, somos tão vulneráveis  que necessitamos que outro humano  nos proteja. Conforme vamos  crescendo, esse nutriente, que  recebemos do outro em altas doses  no início, vai sendo produzido por  nós, vamos analisando as pessoas  que nos dão proteção e aprendendo  a nos proteger. 

 

Conforme recebemos esses nutrientes vamos sendo  capazes de nutrir outros corpos  psíquicos, e é assim que se  estabelecem os vínculos, no qual, a  linguagem é o veículo de passagem. 

 

É, eu sei, isso tudo é tão difícil. Eu sinto, o outro sente, nós  sentimos. Tentamos comunicar, o outro não entende, se esforça, mas  não compreende. E os nutrientes  que nos dão mais energia para viver  vão ficando escassos. Por falta de  nutrientes vamos adoecendo.  Depressão, ansiedade,  hiperatividade, pânico, obsessão,  compulsão. Para a dor física, para o  incômodo no estômago, procuro um  médico que receita um medicamento  para o tratamento. E para a dor  psíquica? Psicologo? Psicoterapia?  “Acho que não preciso, consigo  resolver isso” “ah, é muito demorado,  preciso resolver isso logo, sabe,  parar de sentir assim”. “Hoje estou  melhor, acho que dá pra aguentar”  Psiquiatra? “Mas eu não sou louco”. 

 

Atualmente, são diversas as ofertas de remédios para a dor  psíquica. Os anúncios oferecem  tratamentos rápidos, fáceis e  objetivos. Para depressão óleo de  girassol, para ansiedade uma  sessão de relaxamento e o resto  pode fazer na sua casa, para insônia  meditação, para cansaço descanso.  Ritalina na infância pra acalmar e  concentrar ou (concertar) e rivotril  pro adulto não sentir e poder dormir.  Mas, trago notícia de terra civilizada,  e lhe pergunto: se adoecemos por  falta de nutrientes que nos chegam  através da linguagem, porque falar  nos custa tão caro? Porque  escolhemos não falar dos nossos  sentimentos? Porque escolhemos  tomar o óleo de girassol pra mandar  a tristeza embora? Porque não nos  perguntamos de onde vieram os  excessos? onde estou consumindo  emoções para além do que meu  corpo psíquico necessita? Quais são  as trocas relacionais que tem me gerado excesso de raiva, tristeza,  ansiedade?

E você? Tem pensado em como está alimentando o seu corpo  psíquico? Sabe onde encontrar os  nutrientes que necessita? Sabe  quais são os nutrientes em excesso  e quais estão escassos? 

 

Lembre-se, se a nutrição vem da linguagem, a desnutrição  acontece pela falta da linguagem. E  a lógica é a seguinte, se você não  souber qual nutriente está  precisando, você não vai saber pedir  ao outro, e aquela história de os  humanos nutrem uns aos outros, não  dá certo. Você precisa de presença,  mas não diz, o outro precisa de  ausência, mas também não diz, e no  jogo do advinha vamos perdendo as  conexões “eu enchi ela de presença  e acredita que ela reclamou?” “Eu  dei espaço e não sei porque ele se  distanciou?” 

Busque pensar sobre suas emoções: o que falta? O que sobra?  Como estou comunicando e como  estou escutando as necessidades e  carências? 

 

Para o entendimento do funcionamento do seu corpo  psíquico converse com um  psicólogo. Para o tratamento das  dores psicoterapia. 

Importante lembrar que o corpo psíquico, assim como o físico,  tem um funcionamento exclusivo,  não basta um livro que fale sobre o  funcionamento de corpos psíquicos,  os livros nos dão uma visão geral, o  que nos proporciona conhecimento  de nós mesmos é a comunicação, falar com um profissional que nos escute é um caminho possível para se chegar a esse conhecimento. 

 

“Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração”

Psic. Juliana Mistrini Veríssimo 

CRP 08/21151